Crise X Arrependimento

02/07/2013 20:54
 
Nessas semanas que tem se passado eu tenho me questionado muito em relação a minha vida. Estou onde gostaria de estar ou onde querem que eu esteja? Faço o que eu gostaria de fazer ou faço o que gostariam que eu fizesse? Ajo conforme minha consciência ou me preocupo com o que as pessoas vão pensar?
 
Cheguei a um ponto onde sinto que preciso mudar minha vida, agir conforme a minha vontade. Deixar minha loucura me comandar um pouco. Deu uma vontade doida de arriscar mais na minha vida! Fazer intercambio, abrir um negócio próprio, morar em outra cidade, outro pais, mudar de profissionalmente, fazer cursos fora do meu ambiente atual.
 
Um dia desses conversando com um colega profissional ela me contou um pouco da sua história. Ela é uma moça solteira, perto do seus 40 anos. Ela trabalha em São Paulo – Capital, mas já morou no litoral pelo simples fato de gostar de surfar aos finais de semana. Decidiu mudar a vida, pediu demissão e abriu uma sorveteira na Bahia. Cansou! Voltou para São Paulo – Capital e voltou para o antigo emprego. Morou em dois bairros diferentes em São Paulo. Não se adaptou, mudou para Campinas junto com a família. Agora parece ter “sossegado”... Ela nunca precisou “praticar o desapego”, ela é o desapego!
 
“Sossegado”? “Praticar o desapego”? – Será que essas expressões servem para dizer que as pessoas são inquietas? Ou será usamos ela porque não temos coragem e tentamos justificar o medo de arriscar?
Uma vez, em uma palestra para jovens estagiários de uma multinacional, o palestrante nos disse que, matematicamente, podemos arriscar até os 35 anos. Isso porque até essa idade temos tempo reavaliar nossas atitudes e temos tempo de recuperar nossas ações.
 
Esse momento de conhecimento todos passam! Uns chamam de “Crise dos 25”, outros de “Crise do Amadurecimento”, outros ainda mais ousados chamam de “Responsabilidade”. Quem nunca se pegou pensando “Gosto do que faço, mas não sei se me dá prazer” ou quem sabe “Será que quero fazer isso para o resto da minha vida?”?
 
Tenho uma teoria, que pode ser aplicadas a grande parte dos meus amigos/colegas de faculdade. No meu circulo de amizade (o que prevaleceu após a faculdade), estamos entre 25 e 28 anos, somos formados, casados e temos um bom emprego. Temos também casas para bancar, filhos para educar, contas (altas) para pagar, casamento para manter, cursos para fazer, pós graduação para uma melhor colocação no mercado. Talvez chegamos rápido de mais onde queríamos e agora estamos não sabemos o que fazer.
 
Eu mesma, como Consultora de Sistemas sempre almejei ser funcionaria de uma empresa que eu terceirizava meu serviço. Aos 23 anos de idade consegui o que tanto queria. Fui contratada por uma instituição financeira como Analista de Sistemas. Foi sensacional entrar nessa empresa, um sonho realizado, motivo de orgulho. Não vou negar, até hoje é motivo de orgulho, porém hoje a idéia de ser bancária pelo resto da vida me assusta um pouco. Alias, ser bancária, ter essa pressão, essa cobrança, não conseguir fazer as coisas que eu gosto (por fatores como financiamento de casa, casas para bancar, casamento para manter, cursos para pagar), não poder morar fora do pais, não poder me arriscar antes de ter filhos me assusta. E muito!
 
Vejo muita gente com 30 anos, que ainda não se achou profissionalmente, não tem um bom emprego ou nem sabem no que querem trabalhar, mas eles arriscam, tentam, vão atrás do que gostam. Até que um dia se acham! Essas pessoas são bem mais vividas que muito gerente que ralou a vida toda por um único objetivo.
 
Então pensamos “Como vou me arriscar se tenho que pagar o financiamento da casa, sem contar água e luz. Putzzz, e o IPTU? Mobílio minha casa ou viajo? E as despesas com o carro? Será que consigo manter uma casa financiada e um carro? E a gasolina? E o IPVA?”.
 
Percebem as contradições? Poxa, se você trabalha onde sempre sonhou, tem um bom emprego, um bom salário, tem uma casa, um marido. O que mais você quer? Vejam, aos 25 estamos colhendo os frutos da nossas decisões, do que plantamos, estamos na profissão que escolhemos. Mas será que essa profissão é o que nos faz feliz? Um amigo, um desse que eu citei, com a vida feita me disse “A gente vive no automático todos os dias! Faz dois anos que me formei e não vi o tempo passar” E olha ai, mais um ponto. Eu também não vi o tempo passar desde que me formei!
Outra coisa muito importante que ele me disse“Até quando vou deixar de viver o presente pensando no futuro? E caso eu viva assim, e quando chegar nesse "futuro" perceber que não era como pensava? Não vivi nem o presente nem o futuro. Vou buscar estabilidade financeira, mas não vou colocar em cheque a minha felicidade.”
 
Quantas vezes não olhamos para nossos superiores e pensamos “Meu Deus! Ele tem vida? Eu não quero ficar assim”. A que ponto as pessoas chegam para ter um bom emprego? Ser reconhecido? Subir na vida? Vale colocar sua felicidade, seu bem estar no jogo?
 
Na revista Super Interessante de Maio/2013 saiu a reportagem “GUIA PRÁTICO CONTRA O ARREPENDIMENTO”, onde foi listado os 5 maiores arrependimentos de pacientes em estado terminal:
1) Eu gostaria de ter trabalhado menos.
2) Eu queria ter tido a coragem de viver a vida que eu desejava, e não a que os outros esperavam de mim.
3) Eu queria ter expressado meus sentimentos.
4) Eu queria ter mantido contato com meus amigos.
5) Eu queria ter sido mais feliz.
 
Na minha opinião os itens 1, 2 e 5 estão diretamente ligados! Segundo a reportagem o arrependimento número 1 é universal. Me parece que o trabalho possui um peso desproporcional em relação às outras áreas da vida. Em certo ponto é citado que “Para os trabalhadores do Brasil, o principal fator motivacional é o tipo de emprego que ele faz. E é ele que está em conflito. Segundo o filósofo-pop francês Alain de Botton, a crise com o emprego que estamos vivendo é a da falta de sentido”. Me parece então que é uma crise nacional? Podemos descartar a “Crise dos 25” então? Ainda segunda a reportagem “É mais difícil largar a rotina do trabalho do que o trabalho em si. O emprego vira uma grande parte da identidade das pessoas, ao ponto de que não sabem mais quem são longe dele.”
 
E conforme minha opinião essa crise nos leva ao arrependimento número 2. “As pessoas não tomam decisões por si, tomam pelos outros, porque querem ser queridas. Assim, a felicidade acaba na mão de terceiros”. Fazer o que os outros esperam de nós não deixa ninguém feliz.  Um estudo concluiu que quem busca o tempo todo a aprovação dos outros, tem mais chances de desenvolver depressão. Pois se esforçam tanto para agradar que se perdem no meio do processo. e, claro, não conseguem fazer o que realmente têm vontade.
 
Chegando no arrependimento número 5, penso nas pessoas que foram entrevistadas para essa reportagem. Chegar a essa etapa da vida com a sensação de que não foi feliz. E pelo jeito esse arrependimento é mais comum do que parece."Ser feliz depende em grande parte das escolhas que fazemos – e não só de alguns poucos eventos de sorte esporádicos. Ou seja, seria bom parar de levar a vida no automático e exercer a felicidade.". E ai está de novo a afirmação do meu amigo.
 
Uma informação mais do que importante é que ninguém vai morrer se deixarmos o nosso trabalho um pouco de lado, de vez em quando. Ou para os que já sabem que não é disso que desejam viver, ninguém vai morrer com a decisão. A busca pela felicidade é mais importante que qualquer teoria ou reportagem. Vai de cada um mudar de emprego, fazer um curso, uma pós, tirar umas férias, viajar, se mudar de casa.
 
Por mais que eu concorde com a Reportagem, eu me pego falando “OK. Lindo. Mas na teoria é muito mais fácil que na pratica”. Quem aqui com casa financiada, contas altas, carro, curso, filhos, vai simplesmente jogar tudo para o alto?
 
Só nos resta tirar férias e esperar que tudo volte ao normal!
 
 
Reportagem Citada: Guia prático contra o arrependimento - Revista Super Interessante - Maio/2013 [https://bistury.wordpress.com/2013/05/09/guia-pratico-contra-o-arrependimento/]
 

Comentários

Nenhum comentário encontrado.

Novo comentário


Crie um site grátis Webnode